É de praxe nesta época elencar o que de melhor tivemos, então vamos lá. Atendo um pedido também. Tempo de reflexão, aproveitando o marasmo dos primeiros dias do ano. Corro o risco de esquecer de algum fato importante ou de mencionar alguém que mereça, pode acontecer, já vou me desculpando, mas acho que temos um bom resumo aqui nessas linhas.

Restaurante Manu

A escolha do restaurante Manu como o melhor do Brasil, pela revista Prazeres da Mesa, sem dúvida foi uma grata surpresa, além de trazer muitos turistas para a cidade. Manu Buffara, na foto tirada no festival Fartura, em Belo Horizonte, participou e cozinhou nos principais eventos de gastronomia do país e até em Portugal. Trabalhou muito e colheu o resultado. O estabelecimento da chef também figura como o melhor do Sul do País pelo mesmo ranking e já foi citado no famoso prêmio Worlds 50 Best Restaurants. Teremos mais surpresas envolvendo seu restaurante, com certeza.

Roberta Sudbrack leva prêmio e abre outro estabelecimento

Roberta Sudbrack foi eleita a melhor chef mulher da América Latina – prêmio World’s 50 Best Restaurant, motivo de muito orgulho e alegria para os brasileiros. Misturou inglês e espanhol no seu agradecimento por conta da emoção de receber o prêmio. Teve direito a fila de jornalistas internacionais para entrevistá-la. Ela merece. Eu estava lá conferindo tudo e curtindo o momento, fiz cursos com a chef, participei da Confraria Viva, que ela comandava, além de reproduzir todas as receitas do seu livro “Uma Chef, um Palácio” no blog. Quero ressaltar também que os cozinheiros cariocas, liderados por Claude Troisgros – ídolo de todos -, deram um show de união e entusiasmo na festa. Em 2015, a chef ainda apresentou o seu SudTruck, com o famoso cachorro-quente – começou cozinhando assim em Brasília –,  e abriu no bairro do Leblon o DaRoberta, o bar que serve sanduíches.

Michelin no Brasil

Quem diria, as cobiçadas estrelas Michelin estão entre nós agora. Apenas o Rio de Janeiro e São Paulo receberam os inspetores e um restaurante, o D.O.M., recebeu duas estrelas. Veja lista completa aqui. Motivo de muita comemoração, com certeza.

Lasai

A volta do chef Rafa Costa e Silva ao Brasil e a abertura do seu Lasai em 2014 no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, trouxe vida nova ao país. O jantar preparado por ele e seu ex-patrão no final do ano passado ficará na história. Rafa trabalhou durante cerca de cinco anos com o premiado Andoni Luis Aduriz e chegou ao cobiçado posto de sub-chef do Mugaritz, restaurante no País Basco. Sua entrada no ranking do 50 Best América neste ano foi fulminante, por isso seu nome aparece aqui. Ganhou estrela Michelin também, além de outros prêmios. A CNN incluiu o restaurante entre os 15 no mundo para visitar e a Condé Nast Traveler o colocou na “lista de ouro”.

Os melhores da América Latina

Estive na festa de entrega do prêmio World’s 50 Best Restaurants América Latina. Contei tudo aqui, inclusive sobre a performance brasileira e a falta que Alex Atala faz. Corri para pegar a clássica foto com os premiados e fiquei com a turma olhando para o outro lado. Me chamou a atenção o fato de como alguns governos, leia México e Bolívia, além do Peru, que todo mundo já sabe, investem em gastronomia. Serve de alerta para brasileiros e paranaenses. Exemplo.

Sirha

O Rio de Janeiro conseguiu trazer uma das maiores feiras de gastronomia – o Sirha. O evento francês – que reúne mais de três mil expositores e quase 200 mil profissionais visitantes e é um dos mais conceituados no setor – foi criado por Paul Bocuse. Além do espaço de exposição, tem um festival de inovação, o Omnivore, as competições Bocuse d’Or e a Copa do Mundo da Pâtisserie. A nossa versão, que aconteceu em outubro, foi mais modesta em números, mas igualmente um sucesso. No Brasil, Claude Troisgros foi o presidente de honra. Laurent Suaudeau ficou à frente do concurso. Um acontecimento por aqui.

A lista

Os franceses deram o troco – sem nenhum restaurante francês entre os 10 primeiros lugares, estavam com o 50 Best entalado na garganta – lançaram então outro prêmio em resposta ao ranking inglês. Em dezembro, apresentaram, com apoio do governo francês – a ideia foi do Conselho de Promoção do Turismo –, o Mille Tables d’Exception. A lista francesa, já chamada de “The list”, de acordo com o que foi divulgado, foi elaborada com base nas notas que milhares de restaurantes recebem por meio de cerca de 200 guias, como Michelin, Gault&Millau e Zagat, de sites como Open Table e TripAdvisor, listas, incluindo a 50 Best e imprensa especializada. Houve ainda a consulta a mais de três mil chefs, especialistas em gastronomia e jornalistas. Nos critérios avaliados: comida, hospitalidade, presteza do serviço, ambiente e adega. Foram selecionados mil restaurantes, 117 da França, cuja gastronomia é tombada como patrimônio mundial pela Unesco. O Japão ficou com 120 e nós com 24, começando com o D.O.M. na 324. posição. Foi difícil achar a página na internet com o resultado, aqui está. Quem entrou além do D.O.M.? Roberta Sudbrack (430); Olympe (433); Fasano (449); Maní (482); Oro (486); Le Pré Catalan (525); Antiquarius (576); A Bela Cintra (588); Epice (653); Skye – Hotel Unique (608); Lasai (661); Trattoria Fasano (663); Amadeus (672); Jun Sakamoto (677); Vecchio Torino (693); Attimo (701); Kinoshita (714); Fasano al Mare (743); Huto (760); Dalva e Dito (806); Parigi (837); A Figueira Rubaiyat (839); Arturito (908).

Abre e fecha

Não vou falar dos inúmeros restaurantes que abriram e que fecharam, foi motivo de muitos posts e reportagens Brasil afora. Aqui não foi diferente, além disso teve a dança das cadeiras, ou melhor, dos fogões, com chefs mudando ou deixando restaurante para começar a carreira de consultor, como fizeram os irmãos Lopes, Ivo do La Varenne e Ivan do Mukeka.

Destaco algumas aberturas, uma delas é a Mercadoteca, no Campo Comprido, com lojas especiais, como a do Flávio Frenkel (foto), que antes atendia o público no catering Anis Gastronomia. Detalhes sobre o empreendimento aqui.

 

Sem rodízio

Um restaurante japonês em Curitiba deu o que falar, apesar do azeite de trufa no salmão também aparecer lá. Tem muita gente que gosta, claro. Deve ser por isso que é servido. Levo um puxão de orelha por implicar com o dito azeite, “você também já usou!”, escutei. É modinha de gosto duvidoso. Faz tempo que sou da turma de que trufa é só fresca. Enfim, o restaurante Aizu, proprietários Edison Azuma e Hida Igarashi, ao lado do chef Régis Shiguematsu, ex-sócio do Nakka, na foto abaixo, chegou de mansinho e arrasou na comida, ambiente, serviço e carta de sakês. Billy Tatsushi, que trabalhou no Kinoshita, e Marcos Furtado, no Kan, reforçam a equipe. Estava faltando na cidade. Faltava também um bar japonês, não falta mais, porém outros são bem-vindos. Precisamos amadurecer no assunto. Mesmo com a abertura de várias casas de comida japonesa, Nakaba no balcão continua firme e forte como um boa opção para os mais tradicionais.

O restaurante Terra Madre completou 10 anos e apresentou um chef italiano e novos sabores. Simone Brunelli veio para os festejos e acabou ficando. Sorte nossa. Escrevi sobre ele aqui.

Alex Atala agora tem açougue e catering, além de um bar e dois restaurantes. Ainda sobre o tema das aberturas, menciono também o  comentado A Casa do Porco no centro de São Paulo. Jefferson Rueda (foto) deixou o Attimo e abriu o restaurante que lotou desde o início. Uma maravilha, soube dosar a aproximação que tem com a gastronomia oriental e o conhecimento de carnes. Janaína Rueda, do Bar Dona Onça, dá uma força para o marido até a casa engrenar e a competente Saiko Izawa dá show nos doces e pães. Imperdível. Um sucesso.

Guia Alimentar para a População Brasileira

Não poderia esquecer do lançamento pelo governo federal do Guia Alimentar para a População Brasileira, iniciativa que merece ser aplaudida, pois dá o recado de que devemos cozinhar mais e usar ingredientes frescos. Saúde em primeiro lugar. Leia aqui.

Eles são bons

A volta do Marcelo Amaral, do Lagundri, depois do ano sabático na Bahia, apesar de ele não ficar muito por aqui, por exemplo, é motivo de comemoração, assim como a volta ao batente do Lênin Palhano tocando o Nômade, no hotel “boutique” Nomaa. A abertura adiada por vários meses permitiu ao chef estagiar em alguns dos mais importantes restaurantes daqui e inclusive no melhor da América do Sul, o Central, do chef Virgílio Martinez, no Peru. É esperar mais novidades. Olha a felicidade dos dois na foto durante um intervalo entre as aulas do Mesa ao Vivo Paraná.

Rede Madero

Júnior Durski reabriu o seu chiquérrimo restaurante Durski com muito estilo e sem alarde. Também não parou de expandir a rede de restaurantes Madero. Lançou cardápio “fit”, preparado com muito esmero. Abriu fábrica em Ponta Grossa para centralizar a produção e novas casas em outros Estados e inclusive no exterior. Misture talento, trabalho e determinação e tem a receita do sucesso dele.

Mesa ao Vivo Paraná: segunda edição

A segunda edição do Mesa ao Vivo Paraná – uma ação do projeto Gastronomia Paraná/Abrasel – aconteceu, contrariando as expectativas negativas em um ano de crise econômica. Consolidamos assim a participação no principal circuito da gastronomia do país. O evento é uma promoção da revista Prazeres da Mesa. A boa notícia é que, pela primeira vez, ao lado do governo, que é o principal apoiador – com recursos da Compagas, Paraná Turismo e Fomento Paraná – tivemos a Fecomércio/Senac e o Instituto Municipal de Turismo viabilizando a iniciativa. A revista Bom Gourmet da Gazeta do Povo foi o veículo oficial e ainda contamos com a parceria do Centro Europeu e do Museu Oscar Niemeyer. Outra boa notícia é que a terceira edição do evento já está sendo planejada, será na Universidade Positivo paralelamente ao Congresso Nacional da Abrasel, nos dias 29, 30 de junho e 1. de julho. Agende.

Gastronomia Paraná ganha fôlego

O projeto Gastronomia Paraná, da Paraná Turismo, ganhou força com a formação de um comitê executivo para definir as ações da iniciativa. Além do já citado Mesa ao Vivo Paraná, deu o empurrão a um prato até então desconhecido, o “pão no bafo”. Divulgado pelo projeto, ganhou outras esferas, virou prato típico de Palmeira e entrou no circuito “Prato da Boa Lembrança”, é um “caso de sucesso” e modelo que deve ser expandido para outros municípios. Um trabalho realizado pelos alunos da Unicesumar sobre pratos típicos também é outro destaque do projeto que deve ser replicado. E ainda as oficinas de gastronomia devem acontecer em parceria com o Slow Food e Senac. O ano foi marcado pela avaliação do projeto, com o consultor do Sebrae, e a integração das instituições que atuam na área. Volto a falar sobre o assunto.

Cultura Alimentar

Muito além da produção de alimentos e dos restaurantes. Curitiba realizou a I Conferência da Cultura Alimentar, com o tema “Tradição e Tendência: Múltiplas Identidades à Mesa do Curitibano”. Um passo ousado dos organizadores para traçar as diretrizes gerais da cultura alimentar da cidade para os próximos 10 anos. Lai Pereira, da Salumeria Monte Bello, é a coordenadora do Conselho de Cultura Alimentar e foi uma das organizadoras do evento ao lado da Fundação Cultural de Curitiba e do convivium Coré Etuba do Slow Food. Ao final do dia, aconteceu a plenária para votação de emendas da minuta do Sistema Municipal de Cultura e eleição dos delegados, que integram agora o Conselho de Cultura Alimentar de Curitiba. Lai também foi eleita recentemente a representante paranaense no Conselho Nacional de Políticas Culturais. Gente atuante e disposta. Saiba mais sobre o andamento das definições do plano aqui.

Livros

Acho que nem todos os livros foram lançados neste ano, mas eu os conheci em 2015, por isso aparecem aqui. Ter as crônicas da Nina Horta e do Luiz Horta publicadas em um livro é motivo de comemoração. Ainda mais se puder ler no Ipad ou celular, é só comprar a versão digital. Não sou fã, prefiro papel, mas o formato já me salvou do tédio de uma fila várias vezes. Fiquei apaixonada pelo “Everyday Harumi”, da famosa cozinheira japonesa, “O Atlas Gastronômico” da jornalista Mina Holland e não largo “A Arte da Comida Simples”, da Alice Waters. Na pilha me esperam “A Arte da Fermentação” de Sandor Ellix Katz, que não tive coragem de abrir porque sei que dará trabalho e será uma paixão para sempre, e “A Pequena Cozinha em Paris da Rachel Khoo”, aliás os neobistrôs parisienses têm me feito sonhar com uma proposta de casas inovadoras, simples e deliciosas, que têm bom preço. Também amei o livro Jerusalém, ainda mais depois de conhecer em Londres, no começo do ano, um dos restaurantes da dupla Yotam Ottolenghi e Sami Tamimi. E agora é “foco na canjica”, como diria uma amiga, e persistir nos objetivos, 2016 já chegou. Feliz Ano Novo a todos!