o dia em que fui caçar cogumelos.
seria épico, falaram. foi.
pode parecer exagero.
não é. entrar numa floresta aciona o imaginário. não se sabe nunca como será. tá certo que era só um bosque.
embarquei na Expedição Tutano 1ªCaça de Cogumelos da Região de Witmarsun, Palmeira, Paraná.
não perca a próxima, ainda mais se for ao lado de um especialista.
a expedição é da lista de coisas bacanas da mesma turma do fórum, da revista e de não sei o que mais.
Jeferson Timm explicou tudo pra quem estava lá e mais detalhes ficou por conta do livro Cogumelos Comestíveis no Brasil que veio junto pra casa.
a publicação do Timm saiu do Projeto Primavera Fungi desenhado para desmistificar e divulgar esse universo dos cogumelos silvestres que pouco conhecemos e que deveríamos explorar mais.
a mata que entramos era pequena, mesmo assim fiquei lá imaginando, imaginando. afinal, ver as pessoas em fila no meio de árvores não é tão comum assim.
diferente da Amazônia, onde estive e não esqueço, aqui, com tanta gente junto, o medo é só de esquecer de contar tudo como foi e é claro que vou.
os cogumelos é que se fizeram de difícil. ainda não tinham brotado como a gente queria. mesmo assim, fui andando, andando e olhando pro chão. bem atenta, quando percebi lá estavam eles. achei alguns, mas o melhor foi comer depois o risoto que a Gabriela Carvalho, do Quintana, fez, esse, sem exagero, foi épico. dei conta de um pratão depois da salada de feijão, dos queijos, dos legumes na brasa e do bao do chef do André Pionteke, do Kitsune – a raposa estava lá representada – ele disfarçado de gaúcho.
a chuva que deveria ter aparecido uma semana antes, teríamos mais cogumelos, chegou na hora do almoço. todo mundo correu pro abrigo. a Gabriela nem se incomodou. parecia uma fada. a Ale levou uma sombrinha pra ela que continuou mexendo, mexendo e sorrindo, sabia de coração a poção que preparava.
as crianças corriam na chuva pingando de alegria e tentando se desvencilhar da capa protetora que todo mundo ganhou.
foi dia de aprendizagem, risadas, conversas e comida boa. a Carol Garofani também provocou. ela fez uma sobremesa de virar o olho pra ver se sobrava outro pote e chupar os dedos depois de morder a lasca de chocolate branco por cima. era com geleia de ruibarbo, ela me contou que os alemães da colônia conseguiram plantar por ali. vou atrás. tenho várias receitas me esperando com essa planta prima do salsão, que é difícil de achar.
os chocolates da Kakaowit por sorte estavam lá e eu estou devendo uma visita pra Juliana, quero conhecer todo o processo artesanal. conheço o chocolate, se mostra exibido com todo o direito na embalagem linda e perfeita porque vem em retângulos separados, você não abre a barra inteira, o que dá a impressão que pode se controlar. a vontade é devorar em segundos. está na minha lista dos preferidos.
e vou deixar a Unus Mundus pra outro post. grudei no casal de psicólogos como ímã querendo entender a paixão do Juliano e da Carol pelos vinhos. fiquei ao lado deles provando e conversando, provando e conversando, vendo o tempo escorrer devagar. vou lá conhecer tudo isso de perto em São Luís do Purunã. vou sim, prometi pra mim mesma.
e nem contei que fiquei tentando convencer o Josef Lotscher, o queijeiro suíço, a não desistir do sonho de fazer queijos artesanais. ele um mestre queijeiro que temos a sorte de ter fincado raiz na colônia.
e que encontrei uma colega do jardim de infância desaparecida da minha vida por uns mais de 50 anos.
e que encontrei uma pessoa “fina, elegante e sincera”, como canta Lulu Santos, editora de livros infantis, dessas que a gente quer ter por perto, que eu não via desde que o menino dela nasceu e que agora já corria na chuva com seus sete anos imagino.
e que confidenciei conversas com o primo sobre o tempo de ontem lá longe e o tempo do futuro lá da frente.
pensando bem, foi épico sim porque “tudo é um viver único, de uma só vez, sem repetição…” é João Anzanello Carrascoza, que conheci dia desses. é um só mundo – unus mundus – visto de diferentes perspectivas.
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