Poucas horas antes de o livro “Sabores & Destinos” chegar nas minhas mãos, dei risada com o desabafo de uma amiga: “uma vida sendo enganada comendo cúrcuma achando que era açafrão”, disse. De posse do livro concluí: ela precisa dele”.
Folheei algumas páginas e minha certeza aumentou, é uma obra para ler, consultar e se aventurar a conhecer os temperos e especiarias espalhados pelo mundo.
A proposta que André Mafra apresenta é além de tudo tentadora. Afinal, quem não quer viajar e comer bem.
O livro
Sabores & Destinos – uma viagem pela história das especiarias vai aos poucos aguçando a vontade de aprender e fazendo salivar.
Digo mais, se você quer conhecer as histórias e curiosidades sobre os temperos e especiarias encontra no livro um caminho. O autor andou por tudo e pesquisou muito, também recheia o relato com as suas experiências.
“Não é um livro de receitas, nem de gastronomia”, avisa o escritor, mas as receitas são encontradas no site dele. Quem adquire o livro tem acesso a uma plataforma com conteúdos exclusivos.
Entre pesquisas e viagens foram 10 anos. Com a obra você vai passear com Marco Polo pelas ruas de Veneza, porto que distribuía mercadorias do Oriente para o Ocidente, e por Portugal, onde as viagens começaram. Mas também pelo Irã e por Israel, que mais me atraíram, sem falar da Índia e do interior do Brasil. Na verdade, confesso que todos os lugares com suas histórias e produtos chamam a atenção.
Temperar ou condimentar
Escuto de quem me alimentou desde pequena – e que é uma excelente cozinheira – que não gosta de temperos, como ela chama as especiarias. Acostumada com o uso de cebola, alho e sal, e algumas poucas ervas aromáticas, diz que “esses temperos sic são muito fortes, e não fazem bem para ela”.
Passo a encarar a declaração dela como desafio e acho que agora tenho um aliado em mãos. “Condimentar um prato significa acrescentar especiarias a ele. Já a palavra tempero possui outra história”, esclarece Mafra. Muita gente desconhece os poderes e propriedades das especiarias, as vantagens de trocar o sal por elas e sei que se pode aprender a gostar, pois a comida fica muito mais atraente e cheia de sabor, acrescento. Quando fui apresentada às especiarias não imaginei outra vida sem.
Mafra aborda o papel das expedições em busca de especiarias, que culminou nos descobrimentos, bem como a importância deles na conservação de alimentos e os benefícios para a saúde.
Discorre também sobre a complexidade das rotas do comércio até que as especiarias fossem usadas na Europa, por exemplo, e como seu uso, ainda no século XVI, era indicador de riqueza devido ao alto custo dos produtos. Exceção para o açafrão, a baunilha e o cardamomo que exigem um trabalho manual para a sua colheita e por isso continuam valiosas atualmente.
Açafrão
Devo para a minha amiga uma explicação mais completa sobre o açafrão. Leio que os fios de pistilos são extraído das flores Crocus sativus e vendidos em pequenas embalagens geralmente com um grama, a origem é mediterrânea, é encontrado nas regiões da Ásia Menor, Grécia e Itália e também que o considerado melhor está na Espanha e que o Irã é o maior produtor.
“Quando de boa qualidade, o pistilo logo incha em contato com a água… aroma forte e o gosto levemente amargo”, leio. Cúrcuma, chamado de “açafrão da terra” no Brasil, imita o original, que os puristas não aceitam, claro, e como o urucum dá cor ao alimento e é vendido em pó.
Falei mais sobre o livro com o André Mafra, acompanhe aqui.
- Como foi despertado o desejo das viagens e da escrita?
AM – Sou um apaixonado em conhecer novas culturas, povos, costumes e destinos diferentes. Viajar esgarça a nossa cabeça e abre novas percepções para a formação de um saber empírico, de quem viu com os próprios olhos. Em tempos de intolerância com o diferente, algumas vezes beber da fonte, pode fazer toda a diferença.
Quando você estuda e tem um projeto para dar cabo, o conhecimento por ter aplicação prática é melhor assimilado, dizem que se você quiser saber mais sobre algo, estude e ensine para alguém. Escrever é uma das maneiras pelas quais seu recado perdura para as gerações seguintes.
2. E como tudo começou? Por que escolheu Portugal?
AM – Sou profissional da área de qualidade de vida e bem estar, o tema alimentação sempre me rondou. Dentro de uma boa alimentação as especiarias não devem faltar e senti que havia uma lacuna grande sobre o tema. Encará-lo por meio de uma perspectiva histórica, acrescido de narrativas de viagens não tradicionais juntaria minhas paixões com oportunidade de ocupar este nicho.
Portugal foi o primeiro país e um dos mais visitados para o projeto, sua história está muito relacionada com o nosso. Deveria ser viagem obrigatória para todo o brasileiro! Cabral chegou até nós em seu caminho para buscar especiarias no Oriente, não podemos nos esquecer. Depois seguiram viagens para Marrocos, Turquia, Índia, Espanha, Israel, Irã, China e outros.
3. Qual foi a maior dificuldade nas viagens e para escrever o livro?
AM – Priorizar. Sabia que tinha que conhecer muitos lugares e estava disposto a fazê-lo. Não havia espaço na agenda e muito menos nas finanças para desfrutar de simples férias em lugares paradisíacos. Admiro quem se arrisca em feriados e finais de anos para viagens dispendiosas, no meu caso essas não estavam nos planos.
A produção de um livro é algo caro e pesa sobre o mercado um ar pessimista. Caso se deixe levar por algumas opiniões ou supostas tendências, não fará nada. Investi em um grande número de viagens, gastei muitas madrugadas estudando sobre o tema e tive que aprender sobre o universo livreiro que desconhecia.
O projeto passou por muitas mãos competentes, das quais muitas estão relatadas na seção de agradecimentos do Sabores & Destinos. Já entre os processos o projeto teve um enorme empurrão pois foi submetido a uma aceleradora de projetos chamada
– Aceleradora DeROSE – em que recebi dicas importantes para ter fôlego e conseguir lançar um livro em um momento complexo como o que vivemos, sem ficar refém dos meios tradicionais do mercado editorial. Só assim consegui fazer o projeto como sonhei. Estou muito feliz.
4. O que mais o impressionou nessa jornada?
AM – O mais surpreende foi perceber o quanto a culinária no Ocidente deixa escorrer pelas mãos o hábito saudável e prazeroso do uso de condimentos. Viajar para Oriente Médio e Ásia (para citar algumas regiões) e descobrir cozinhas tão ricas, tão aromáticas e tão saborosas é realmente algo especial.
5. Você poderia resumir em uma palavra ou poucas linhas a importância dos temperos e especiarias?
AM – Como sempre comento nos meus cursos, a roupa que vestimos, o idioma que falamos, a arquitetura das nossas cidades, nossas crenças religiosas, os feriados que desfrutamos, nossa percepção sobre o trabalho, sexualidade, comportamento e tantas outras coisas estão diretamente relacionadas com a busca do ser humano pelas especiarias no Oriente. Não é exagero.
A fantástica Rita Lobo comenta que alimentação não é remédio. Concordo com ela. Nossa comida deve ser saudável, mas o ato de comer deve ser celebrado e muito prazeroso. As especiarias podem ser grandes aliadas para potencializar o sabor de seus pratos, deixando-os mais coloridos, aromáticos e deliciosos.
6. Você já fez um lançamento da obra?
AM – Fizemos um webinário de lançamento online. Decidi enfrentar o desafio de lançar o projeto no meio da pandemia. Deu friozinho na barriga, mas está indo super bem. O livro saiu, ficou lindo, está nas principais livrarias. Quando puder faremos o lançamento presencial.
7. Podemos esperar outro livro? ou a vida continua no site?
AM – As viagens continuarão e com isso a produção de novos artigos, fotos e cursos certamente. Quem adquire o livro tem acesso a uma plataforma com conteúdos exclusivos dentro do site saboresedestinos.com.br.
Por enquanto quero me debruçar em ajustes para outros idiomas e uma versão digital antes de me dedicar ao próximo livro. Vejo com bons olhos uma entrega completa e mais robusta mesclando livro físico, com versões eletrônicas, cursos online, webnários, lives, podcasts e tantas outras opções.
Ah, André, não pare mesmo, seus conteúdos são muito bem-vindos.