Quase sem surpresas nas primeiras colocações e com momentos de emoção, assim foi a premiação The Worlds 50 Best Restaurants, realizada nesta terça-feira (30/10), em Bogotá, na Colômbia. O peruano Maido, em Lima, levou o primeiro lugar, como em 2017. Central ficou novamente com a segunda colocação.
Ouvimos de uma senhora com a voz embargada, um dos discursos mais aplaudidos, que não abriu seu restaurante na Cidade do México, o Nicos, há 61 anos para ganhar prêmio, mas que estava muito feliz em ter o trabalho reconhecido. No café da manhã no dia seguinte encontrei dona María Elena, que trabalha com seu filho no restaurante, exibindo um misto de contentamento e desconfiança, “não acredito ainda”, confessou.
Mais aplausos para Janaína, ao lado de Jefferson Rueda, quando a Casa do Porco foi nominada e ela se levantou com um cartaz “diga NO al fascismo”, mostrou a resistência necessária ao governo recém-eleito no Brasil.
O prêmio da revista Restaurant realizado pela segunda vez na capital colombiana impressionou pela organização e pelo local. O Centro de Convenções Ágora é imponente e longe. É preciso lembrar que a cidade tem quase 7 milhões de habitantes.
Lista
Para tirar algumas conclusões deve-se olhar as colocações do ano passado. O Brasil, com a entrada do restaurante Manu, de Curitiba, conta com 10 na lista. Está competindo com os campeões de votos: Peru, Argentina e México.
Só perdemos para o México, o que atribuo ao prêmio ter sido realizado lá em 2015 e 2016. A cidade que hospeda a festa recebe chefs e jornalistas do mundo todo. Impulsiona o turismo. Infelizmente, o Brasil não conseguiu bancar a festa até hoje, apenas com várias tentativas frustradas. A festa acontece a cada dois anos em uma cidade diferente. Uma lástima.
Brasileiros
Tivemos duas novas entradas em 2018: Oteque, do paranaense Alberto Landgraf, (leia matéria aqui) e Oro, do famoso Felipe Bronze, ambos restaurantes no Rio de Janeiro, os demais localizados lá desceram posições. Difícil querer ir para a cidade por conta da violência, é só ver que os hotéis estão com baixa ocupação. Outra lástima.
Posições
Porém, com exceção do A Casa do Porco, de Jefferson e Janaína Rueda, que pulou uma casa e está na 7. posição agora, todos os outros desceram na lista. Com o fechamento do Esquina Mocotó, a segunda casa do chef Rodrigo Oliveira, o restaurante também saiu prejudicado, perdeu votos.
One to watch
Não é de hoje que estamos de olho em Manu Buffara. Costumo frequentar a premiação e conhecer os restaurantes da cidade que acolhe a festa e não me conformava que o da chef ainda não figurava na lista.
Pois, entrou pela porta da frente, com direito a imagens de Curitiba e do seu restaurante transmitida ao vivo para o mundo. Entramos no mapa.
“Muito feliz e realizada”. Assim Manu resume. A premiação abre portas para outros chefs e ao mesmo tempo que é um reconhecimento do trabalho da equipe do restaurante divulga Curitiba e o nosso Estado, afirmou. “É uma honra”.
Costumo repetir que não podemos ser a cidade de um só chef. Celso Freire fez fama no passado e ganhou reconhecimento, temos agora Manu desbravando um mundo para que olhem para o seu trabalho. Quem será “a” ou “o” próximo chef a ter destaque assim? Precisamos de mais união para isso, claro, além de cozinheiros talentosos, que temos, com certeza.
Deu Peru novamente
Eles ainda correm na frente, saíram em disparada faz tempo. Para entender o sucesso do Peru é preciso conhecer um pouco o que o país tem feito nos últimos 25 anos.
Apostou na gastronomia para alavancar o turismo. Gaston Acúrio buscou inspiração em ícones da cozinha do seu país, apostou na valorização de produtos e produtores, do fazer artesanal e soube unir os chefs que estudavam no exterior quando regressaram ao país. Também criou uma escola para jovens carentes e idealizou o maior festival de culinária e um congresso, o Mistura. Começaram a ter orgulho de sua cultura e raízes. Não trilhou esse caminho sozinho, claro, teve o apoio do governo e até da igreja. É um exemplo.
E os 50 melhores restaurantes da América Latina são mesmo os melhores? Sempre ouço essa pergunta. Sim e não. A lista mostra para onde a gastronomia está indo e quem está se destacando com um trabalho diferenciado, às vezes, o resultado decepciona.
Mais sobre a premiação na matéria do Bom Gourmet aqui.