Um palco para a música
Passados alguns minutos da hora marcada, as luzes se apagam e a escuridão é vencida pelas chamas de pequenas velas. Elas quase parecem pedir licença para não atrapalhar o jogo de sombras que toma conta do casarão antigo – na rua da Liberdade, hoje Barão do Rio Branco –
testemunha do movimento da política curitibana do século passado no centro histórico de Curitiba, o centro cívico da época, pois por ali estavam instalados o governo do Estado, a Prefeitura e a Câmara.
Na sequência, o arquiteto Otávio Urquiza, um declarado apaixonado por arte, vai até o palco explicar para quem não é frequentador assíduo, “aqui é a casa da música e você viverá uma experiência sensorial. Não interromperemos o serviço, mas pedimos silêncio”. Recado fundamental e bem dosado para o comportamento da plateia nos três intervalos quando são apresentados três trechos de obras clássicas em cada um deles. Ele divide a vida e o empreendimento com a violinista Rebeca Vieira, a talentosa profissional também sobe ao palco, a programação da casa é diversa. Urquiza continua: o espetáculo aqui é mais do que apresentar música erudita, chamada de clássica, “é de qualidade”.
A comida
E qualidade também está na comida. Quero provar o “raclette interativo Vila-Lobos”, não consegui mesmo tendo estado ali algumas vezes. Além desta opção, eles têm no cardápio pratos “clássicos”, tradicionais até na apresentação. Os pães servidos são de fermentação natural e também oferecem opções veganas, vegetarianas e sem glúten. Fazem questão de explorar os princípios da permacultura – da cultura permanente – os valores da terra local, os produtos e ingredientes orgânicos – do chamado Km zero – e perseguir a meta do lixo zero. Recomendo o que já provei: a “Burrata servida com pesto, tomate cereja, rúcula e torradinhas”; a salada “Monteverdi” com folhas orgânicas, tomate cereja, mozarela de búfala e presunto cru; o “Quarteto de bruschettas Vivaldi”; as “Iscas Toscanini” servidas na chapa com batatas sauté, pão, chimichurri e pimenta suave; e o filé com molho gorgonzola, que preciso confirmar, parece já saiu do cardápio.
O barítono
E pensar que resolvi escrever sobre o Palco dos 5 Sentidos apenas para falar do barítono Paulo Barato e ele aparece trezentas e muitas palavras depois. Espere, tome fôlego, gastarei mais 300 para contar quem é esse artista cuja voz convida a entrar no universo musical que domina. Vou de olhos fechados. Seu repertório diversificado passeia pela música erudita – com ênfase nas óperas e na música italiana – ao cancioneiro popular. Aplausos calorosos sempre frequentes ao final de cada apresentação é o resultado.
Bacharel em Canto pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná, Paulo tem atuado como solista e coralista em importantes óperas como A Viúva Alegre, O Guarani, Carmen, Rigoletto e muitas outras, no Teatro Guaíra, em Curitiba, é também produtor cultural e regente do Coral Harmonia, desde de 2022. Ao longo de mais de quatro décadas, integrou a Camerata Antiqua de Curitiba e o Coral Champagnat da PUC/PR. Tão à vontade no Palco dos 5 Sentidos que o barítono parece que está na sua casa cantando para os amigos e nós entre eles nos sentimos mais que privilegiados. Semana passada estive lá novamente e foi um show de não esquecer, a experiência com música ao vivo é única, vira uma noite para colocar poesia e sonhos em dia. Atualmente, Paulo se apresenta mensalmente no espaço cultural de “palco e restaurante”, a próxima data será no dia 16 de novembro, com Luís Néri Pfutzenreuter ao piano.
Ópera
Não sei bem como caiu no meu colo a informação de que dia 25 de outubro é o Dia Mundial da Ópera. Não sabia. Um dia antes da apresentação do barítono. O gênero musical tem mais de 400 anos de existência e sempre carrega a pecha de ser destinada para uma elite, uma arte para poucos. Bobagem. Lembro agora de pelo menos um filme que ajudou a desmistificar isso. Como a personagem de Julia Roberts no filme “Uma linda mulher”, que chora na apresentação da ópera “La Traviata”, de Giuseppe Verdi, é ver uma história de amor e tragédia, ou de sofrimento e injustiça social e eu me debulho. Por acaso, esta ópera é inspirada na obra Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho. Tanto Verdi quanto Dumas Filho passaram por tramas semelhantes na vida real. Na epígrafe do “Juro que comi”, de minha autoria, lançado recentemente, é Alexandre Dumas pai quem ilustra a página de abertura. “Queridos leitores, rogo a Deus que lhes resguarde o apetite, o estômago – e os poupe de fazer literatura”. Vindo dele, autor de várias obras, entre elas “Os três mosqueteiros”, dá para imaginar o quanto prezava, como eu, os prazeres da mesa. Entendo.
Recentemente, viajando pela Itália com um grupo, descobri por acaso uma apresentação de trechos de óperas em uma pequena capela. Apesar de não ter tanto conhecimento como gostaria, a paixão pelo gênero é tão grande que convenci alguns amigos a me acompanhar. Não perco a oportunidade de divulgar essa arte que une música, canto, teatro, dança e é capaz de nos transportar para histórias universais e comoventes, com composições dos maiores compositores da história. Mesmo que as apresentações no Palco dos 5 Sentidos não tenham a produção de um espetáculo completo, com cenários, figurinos e iluminação, será uma experiência única e até de aprendizado. Aviso, é de emocionar. Divido com os leitores para que todos possam ter uma noite diferente e especial e, para quem nunca foi, quem sabe seja a porta para abrir a vontade de apreciar um grande espetáculo.
Palco dos 5 Sentidos
@palcodos5sentidos @otaviourquiza
41 3149-0626
Terça à sábado.
Programação dos espetáculos no site www.palcodos5sentidos.com.br
Rua Barão do Rio Branco, 438
Curitiba – Paraná