Cavala, tainha, robalo, garoupa, anchova, salteira, pescadinha, peixe galo, betara, paru, peixe-porco. São muitas espécies de peixes no litoral do Paraná, então por que só comemos salmão, atum e tilápia? Sendo dois deles de cativeiro? Bryan Müller tentou achar uma resposta e acabou tornando-se um empresário do setor pesqueiro. Antes disso, muita água rolou, sua história começa com ele pequeno acompanhando o pai nos mares catarinenses, o que garantiu até a carteira de pescador e a escolha do curso de Oceanografia na graduação.
Aos 18 anos mudou-se para o Paraná atraído pelo ensino gratuito da Universidade Federal do Paraná, em Pontal do Paraná. Formado, foi trabalhar no Porto de Paranaguá com monitoramento ambiental. Aos 22 anos, a veia de aventureiro o fez embarcar de carona em um período de “liberdade criativa”, de Santa Catarina até o Chile. Trocava trabalho por hospedagem e alimentação. Funcionou como um rito de passagem para a vida adulta, amadureceu e acabou sócio com um ex-patrão de uma empresa socioambiental, com sede em São Paulo. Nas pesquisas do mestrado, segurança alimentar e monitoramento pesqueiro participativo, percebeu que a comercialização da pesca era um gargalo para os pescadores, que não tinham autonomia sobre o produto, nascia a empresa Olhe o Peixe. “É missão de vida e é difícil até hoje”, desabafa Müller. Ele conta que os amigos o ajudaram no começo e demorou até entender qual o padrão que os restaurantes precisavam. O foco da empresa está sempre na entrega contínua da equação, que equilibra: preço, qualidade e procedência.
Está há 15 anos em Pontal do Paraná. A empresa ganhou uma virada de chave, como se diz, em 2019, um investidor-anjo colocou recursos no projeto. Em 2021, mais um aporte possibilitou ser uma LTDA. Müller sabe que ainda tem muitos desafios e que existe desconfiança na pesca artesanal, “até alguns municípios do litoral consomem peixes de fora. É preciso desmistificar, educar e capacitar empresas e comunidades”, explica. Pesou na criação da Olha o Peixe a valorização da produção artesanal, o fortalecimento da comunidade local e a ideia de fornecer um alimento saudável. Quando isso estiver no centro da discussão, aí diz que vai ficar satisfeito.
Müller já ganhou dois prêmios de empresa sustentável pelo Serviço Social da Indústria (Sesi), deu consultoria para a Food and Agriculture Organization (FAO), (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura em português), para outros estados na reestruturação de negócios e ministrou cursos para a Petrobras. Quem compra da Olha o Peixe pelo QR code, sabe quando o peixe foi pescado e quem pescou, como foi processado, se tem espinhos ou não e ainda tem acesso a um livro de receitas.
Para o idealizador do projeto A.Mar, o pesquisador Rodolfo Vilar, o consumo de um peixe criado em cativeiro, como o salmão, que tem um histórico de problemas ambientais, não é o símbolo de saúde que vem sendo anunciado há muito tempo. “O salmão não é nativo do Hemisfério Sul e representa 65% do peixe consumido aqui. Por outro lado, 60% de todo pescado brasileiro vem de comunidades tradicionais, da pesca artesanal, 50% desse volume é capturado por mulheres e agora o dado mais espantoso: 70% de todo o volume é descartado, o peixe vira ração ou apodrece, não chega até a mesa do consumidor”, destaca. Outro problema é que a maioria dos clientes quer ter certeza que terá no cardápio do restaurante determinado peixe. Müller diz que até é possível ter uma previsão de safra, mas não uma garantia, pois a sazonalidade é muito forte na pesca artesanal. O ideal seria educar o consumidor a dar preferência ao pescado mais fresco, ao mesmo tempo em que o cozinheiro foca no preparo e não em determinada espécie. O mercado precisa se adaptar à pesca artesanal. “Temos 34 espécies no litoral paranaense e continuamos consumindo o que vem de fora”, questiona Bryan Müller.
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