O Vinicius me inspirou. Quem? O Moraes, quem mais? Isso porque além das poesias e das mulheres ele gostava de comer bem, e, claro, de beber seu uísque com pouca água e muito gelo.

“Pois sou um bom cozinheiro”, o título do livro que tenho em mãos para escrever esse post, é também um dos versos com que Vinicius de Moraes se define no poema “Autorretrato”.

Fizeram pra mim

Como não estou cozinhando desde meados de janeiro, por conta de um acidente doméstico, e os restaurantes estão totalmente ou parcialmente fechados, estou sofrendo um pouco, mesmo que esteja comendo bem, o que é uma sorte e que agradeço.

Sim, tem muito mais coisas tristes no momento para se preocupar do que passar uma receitinha, estamos vendo empregos perdidos, falta de vacina, mortes, fome e por aí seguimos, por isso às vezes acho que não tenho o direito de falar de comida, parece uma afronta.

Entretanto, faço o que posso, peço comida em casa e ajudo quem precisa, e volto ao tema deste endereço e falo do bolo de um ovo que em meia hora está pronto e que não precisa nem de batedeira, deve servir para alegrar alguém.

Resultado

Se fica bom? Nossa, ninguém acreditou, nem eu, mas sendo receita preferida do Vinicius, insisti para que fizessem. Virou um sucesso da casa.

E eu continuo com vontade de sair para comer pratos mais elaborados, daqueles que todo mundo quer repetir mais de uma vez e que alguns chefs sabem fazer.

O bolo

“Quer saber uma receita de cor?” O poeta diz para ler as instruções e depois declamar em voz alta: 1,2,3,4 – um, manteiga, dois, açúcar, três, ovo, quatro, trigo. “Só não se esqueça do leite”, recomenda, e do fermento, acrescento.

Esse típico bolo inglês está no capítulo “das receitas mais queridas da casa materna” do livro do poeta, que tem receitas sim, mas também histórias, crônicas, fotos, trechos de cartas enviadas aos amigos e os seus sabores preferidos.

Se eu tivesse lido isso antes do preparo não ficaria em dúvida de que também entraria para as minhas “receitas mais queridas”.

A irmã Laetitia Cruz de Moraes Vasconcellos assina o prefácio e nos inspira: “as mais gratas e duradouras lembranças estão ligadas a cheiros e sabores sentidos durante os períodos mais importantes da vida: a meninice e os albores* da adolescência”. Deve ser por isso que prezo o paladar e até desvio o caminho se for para comer bem.

Apesar de tudo o que estamos passando, como Vinicius, eu também aprecio a vida. Só não concordo com ele quanto ao desprezo às saladas. Desprezo que ele deixou bem claro em um poema. “Não comerei da alface a verde pétala/Nem da cenoura as hóstias desbotadas/Deixarei as pastagens às manadas/e a quem mais aprouver fazer dieta”.

Serviço

Livro: Pois sou um bom cozinheiro

Autoras: Daniela Narciso e Edith Gonçalves

Editora: Companhia das Letras

* Albor: diz-se de início, começo, princípio

  • 1 ovo (separe gema e clara)
  • 1 colher (sopa) de manteiga sem sal
  • 3 colheres (sopa) de açúcar
  • 2 colheres (sopa) de leite integral
  • 4 colheres (sopa) de farinha de trigo
  • 1/2 colher (sopa) de fermento em pó
  • Açúcar de confeiteiro para polvilhar

Modo de preparo

  1. Preaqueça o forno em temperatura média/baixa (160ºC).
  2. Unte uma fôrma pequena de bolo inglês com manteiga e farinha e reserve.
  3. Separe a gema da clara. Bata a clara em neve e reserve.
  4. Numa tigela em separado, misture a manteiga e o açúcar com o auxílio das costas de uma colher até ficar macio. Junte a gema e bata até ficar quase branca. Misture o leite
  5. Adicione a clara batida nessa mistura, delicadamente.
  6. Por último, incorpore a farinha ao fermento, aos poucos e com movimentos delicados, até formar uma massa homogênea
  7. Leve para assar por aproximadamente 15 a 20 minutos. Ao tirar do forno, deixe esfriar um pouco e polvilhe com açúcar de confeiteiro.