A importadora Porto a Porto e o restaurante Durski proporcionaram uma noite das mais agradáveis recentemente quando apresentaram alguns rótulos de vinhos do Vale do Loire, região mais conhecida e famosa pelos seus castelos e paisagens. Pena não saber disso quando andei por lá. Seus brancos secos e doces são os mais conhecidos, porém a região também tem espumantes e tintos e preços competitivos. Bastou um gole e fui transportada para aquelas terras. Associações e emoções reavivadas, já estava pronta para conhecer mais sobre os vinhos do local.
Foram degustados três rótulos antes do jantar que seguiu com outras boas amostras e a orientação do representante da marca Jô Mendes. Bem low profile, acostumado com essas situações, inovou não fazendo as apresentações de praxe enumerando as qualidades dos produtos e foi logo dizendo: “bebam, digam o que acham e perguntem, tirando as dúvidas”. Isso é experiência e segurança de apresentar vinhos com a marca do produtor Didier Dagueneau, conto mais.
Logo de cara, o aroma dos três vinhos servidos surpreendeu, completamente diferentes e marcantes. A região tem muitos tipos de solos e influências climáticas, favorecendo diferentes castas, mas poucas. Os vilarejos Pouilly sur Loire e Sancerre são os principais produtores, com os vinhos brancos mais conhecidos produzidos com as uvas sauvignon blanc e muscadet, frescos e frutados, que tem a muito procurada relação entre preço e qualidade; os melhores estão na região de Sèvre-et-Maine. Na parte central do Loire é a chenin blanc que aparece. Pesquisando sobre o assunto, encontrei a informação de que as melhores safras estão nos anos de 2010, 2008, 2005, 2002, 1997 e 1996 e as mais fracas 2006, 2004, 2003, 2001, 1992 e 1991. Vamos procurá-las.
O segundo vinho servido foi sedutor, fiquei hipnotizada com seu aroma de frutas secas, senti castanha portuguesa, tudo ficou muito melhor depois de um gole, claro que companhia, o conforto e a classe do lugar ajudaram. O Silex 2009, por Loius-Benjamin Dagueneau, completou a noite, um vinho com personalidade e sabor, beirando os R$ 800,00 ao consumidor, se não me engano. A noite ainda teve Blanc Fumé de Pouilly 2008 para acompanhar o leitão; Château Fleur Cardinale Gran Cru Classé 2009 para o carret de cordeiro; e Les Jardins de Babylone Moelleux 2008 para as frutas assadas com zabaglione, sobremesa assinada por Laysa Durski.
Descobri, pelos comentários e explicações dadas, que um dos fragmentos de rochas calcárias da região – o sílex – dá a mineralidade presente aos melhores vinhos produzidos ali, mesma coisa acontece com o famoso Chablis, do Norte da Borgonha, enriquecido pela conchas fossilizadas e distante do Loire, de quem sou fã.
A região do Loire ficou meio esquecida, sem impressionar muito, até que Didier Dagueneaur, no início da década de 80, com seu jeito rebelde e espírito empreendedor, desafiou sua família e produziu um sauvignon blanc superior, eureka, tinha interpretado o terroir da região. Sem perceber, faço a relação com a gastronomia, parece mais uma vez que é isso que importa, entregar-se à terra, reconhece-la, explorá-la, entendendo seu potencial. Precisamos aprender com essa gente. Didier morreu em 2009 num acidente de ultraleve, mas seu trabalho foi tão forte e com tanta personalidade que continua pelas mãos do seu filho Benjamin com o mesmo sucesso.
Na próxima viagem à França não podemos esquecer de incluir a região no roteiro e desfrutar os bons rótulos produzidos ali.