Já passava das quatro da tarde quando bateu a vontade de tomar um tacacá. Não se tem uma vontade assim do nada. Afinal, tacacá não é uma coxinha catupiry, por exemplo. É muito melhor, mas não está na nossa cultura, na verdade está bem longe. Se nossa opção for pelo tacacá de Belém são mais de três mil quilômetros daqui, ou 45 horas de ônibus, 2.666 quilômetros em linha reta, já dá minha casa até a loja da Natasha Rezende Saliba, que fica ao lado do Mercado Municipal de Curitiba e serve tacacá, são apenas três quilômetros. Em tempo: a visita foi feita pouco antes do decreto que proíbe o atendimento no salões de restaurante, mas o Ver o Peso da Amazônia está fazendo entregas por delivery (iFood) ou no sistema take away.
“Consumido no Norte do Brasil, o tacacá é uma iguaria indígena servida na cuia. Leva o tucupi que é extraído da mandioca brava, o jambu, a erva que dá a sensação de dormência na boca, o camarão e a goma de tapioca”. Aguço a curiosidade de quem não conhece com a explicação da Natasha, e fico salivando só de escrever aqui. Essa receita é a legítima do Pará, em outros estados deve-se encontrar variações.
Desejo
Preciso dizer que a vontade repentina do tacacá veio de um post sobre o Ver o Peso da Amazônia, a loja da Natasha, nos perfis do Instagram da dupla famosa pelos roles na gastronomia curitibana, Dani Machado, que parece não gostou muito do tacacá, e André Bezerra, que gosta.
Bem, para ser mais sincera, a vontade nem foi minha, quem leu o post foi o marido, eu queria mesmo era conhecer a loja e a Natasha, nem sei dizer há quanto tempo eu queria visitar o Ver o Peso da Amazônia. Fomos. Chegando lá, claro, não dispensei o tacacá.
Natasha estava nos esperando. Então, sem nenhuma pretensão incorporei a dupla craque nas mídias sociais e comecei a filmar tudo e querer tudo como uma criança.
A ideia
Um dia, Natasha enfrentou a distância e veio conhecer o Sul com a família. Adolescente, encasquetou que iria morar em algum lugar por aqui, foi paixão, não é que deu certo?
Com experiência na área comercial, formada em Publicidade e Propaganda e pós-graduada em Marketing, anos depois, acabou seguindo os passos do pai, virou empreendedora. Há quatro anos sua Ver o Peso da Amazônia virou a razão de viver, não imaginava. Onde? Curitiba, tudo por conta do ponto, pelo qual foi atraída. Assim veio a ideia de um empório amazônico bem completo, que tem um pouco de tudo da gastronomia do Norte.
Clientes pediram, clientes ganharam. “A gente atende também muito amazonense, então ampliamos a oferta de produtos. Com as cobranças de clientes por alguns pratos prontos preparados de forma tradicional também começamos a servir alguns na loja, como o tacacá”, explica Natasha, que é apaixonada pela cultura e história da sua terra.
Inspiração
O maior feira livre a céu aberto da América Latina, referência na gastronomia, o Ver o Peso, de Belém, é um ponto turístico e serviu de inspiração na hora da escolha do nome da loja. Natasha escutou a sugestão da mãe e explica o duplo sentido, “é uma referência ao mercado e ao tamanho e importância da região amazônica. Uma homenagem”. É fato. Além da loja em Curitiba o leitor precisa conhecer também o Norte do Brasil, se ainda não foi. É outro mundo. Embarque quando for possível, garanto uma viagem que marcará sua vida.
Conversar com a Natasha faz parte da visita, os sabores da Amazônia começam com a simpatia dela na recepção. E vou resumir o que você pode encontrar no Ver o Peso da Amazônia: a maniçoba congelada, considerada a feijoada paraense sem feijão preparada com a folha da maniva que é cozida por sete dias; a cachaça de jambu pura ou com açaí, bacuri, cupuaçu, castanha do Pará; as farinhas bem torradas, a de Bragança, uarini e de tapioca, além da goma de tapioca; os molhos de pimenta em suas variações; açaí puro; pupunha; as polpas de frutas puras sem mistura como a tapereba e bacuri, entre outras; o feijão manteiguinha; os sorvetes da famosa Cairu; os peixes, filé de filhote, pirarucu salgado, pescada amarela e tambaqui; o camarão seco; o tucupi e jambu; a chicória do Pará; acarne de caranguejo; o legítimo guaraná em pó e xarope; cumaru, a nossa baunilha; o chocolate da Ilha do Combu; e alguns doces, enfim, uma infinidade de produtos que não sei como cabem na pequena loja. Incrível que ainda tem espaço para abrigar um pouco de artesanato, como as cuias, as cerâmicas marajoaras e os brinquedos de Miriti. Tudo isso em Curitiba, tão pertinho que é um pecado não conhecer.
Os chefs já foram, são clientes, e faz tempo, o vizinho de blog também já foi, leia aqui, eu deixo com vocês agora a minha impressão. E por falar em coxinha, que mencionei lá em cima no começo do post, Natasha tem as opções com camarão e caranguejo que lembram a que nós conhecemos. A “unha de caranguejo” é famosa e provoca o desejo imediato em consumir.
Em tempo: a visita foi feita pouco antes do decreto que proíbe o atendimento no salões de restaurante, mas o Ver o Peso da Amazônia está fazendo entregas por delivery (iFood) ou no sistema take away.